Com o nome “Utopias tecnopolíticas para o bem viver”, foi realizado no dia 15 de setembro de 2022 um colóquio temático online, transmitido por streaming pelo YouTube do Gig Group @ da Universidade Federal da Bahia e que contou com a participação de palestrantes e expositoras, tanto do mundo acadêmico quanto do ativismo digital.
Graciela Natansohn e Susana Morales, organizadoras e ambas membros da Rede de Investigadores sobre Apropriação de Tecnologias Digitais, explicaram o enquadramento desta iniciativa na convocatória do colóquio:
«A apropriação tecnológica tem sido uma tática dos desempoderados para enfrentar, ressignificar, reutilizar e reverter para seu próprio benefício as ofertas tecnológicas das corporações e estados. Contudo, as capacidades de inovação tecnológica e de criação de infraestruturas digitais sob perspectivas soberanas, autônomas, alternativas, vêm sendo hackeadas pela concentração oligopólica das corporações tecnológicas do Norte Global. A principal ferramenta dessa inovação é a inteligência artificial (IA) e os dados gerados por ela, modelada pelo dataísmo e pela comoditização. Todos os aspectos da vida geram dados, que são o insumo e a riqueza principal dessas empresas, via plataformas ou aplicativos de internet, gerando mais desigualdades, modulação do comportamento, violências e violação da privacidade.
Propomos, por um lado, reconhecer as estratégias de apropriação que têm funcionado e podem enfrentar este cenário de expropriação contumaz, estrutural e estruturante. Se comemoramos as inovações digitais vindas dos grupos “de baixo” hoje, quais são as margens para atenuar ou evitar o espólio e a perpetuação da colonialidade via IA? Como construir um mundo sob a ética do bem viver, sem renunciar à automação e à telemática?
Num contexto cada vez mais desigual de relações de poder, as alternativas são urgentes e necessárias não somente para equilibrar essas desigualdades, mas para possibilitar um futuro para o planeta e os povos que o habitam. Por isso, outro aspecto que propomos é questionar o processo de produção, circulação e consumo de tecnologia, na medida em que coloca em risco as condições de existência humana digna e a sustentabilidade do planeta. Entre os potenciais riscos catastróficos globais estão, entre outros, a mudança climática, as guerras, as pandemias e a inteligência artificial – pelo menos, nos termos em que ela vem se multiplicando.
Reconhecemos que as tecnologias são parte de um sistema político de controle para a consolidação capitalista da economia e da organização social. Devemos aproveitar seu potencial de transformação para imaginar um futuro diferente e construí-lo coletivamente, onde a solidariedade, a eliminação de todas as formas de violência e discriminação e o respeito por todos os seres vivos façam parte da condição de nossa existência.
O evento propõe debater os limites e as linhas de fuga da apropriação das tecnologias digitais, considerando que elas são as novas formas do neoliberalismo do século XXI, braço cibernético do antigo e persistente colonizador masculino, branco, do norte. Seus instrumentos hoje são o extrativismo de dados e a inteligência artificial como ferramentas de organização, gestão e controle da vida no capitalismo global contemporâneo.»
Colóquio Temático Utopias Tecnopolíticas para o Bem Viver
Organizam:
Grupo de Trabalho Tecnologias Digitais e Interseccionalidades (Clacso), Rede de Pesquisadores sobre Apropriação de Tecnologias (RIAT); Grupo de Pesquisa em Gênero, Tecnologias Digitais e Cultura GIG@/UFBA-Brasil e Grupo de Investigación Apropiación de Tecnologías Digitales y Comunicación-GATEC, da Universidad Nacional de Córdoba, Argentina.
Apoio:
Rede Latino-Americana de Estudos sobre vigilância / LAVITS
Comitê Acadêmico:
Ana Rivoir (Uruguai)
Erick Butrón Ontiveros (Bolívia)
Javier Moreno (Espanha)
Kemly Camacho (Costa Rica)
Lina Parra (Colômbia)
Luis Ricardo Sandoval (Argentina)
María Julia Morales (Uruguai)
Roberto Canales Reyes (Chile)
Roxana Cabello (Argentina)
Silvia Lago Martínez (Argentina)