O campo disciplinar dos estudos sociais tem sido, sempre, interpelado pela extensão e complexidade dos entornos tecnocomunicacionais; estes vêm exigindo uma profunda renovação, tanto dos seus olhares teóricos como dos seus dispositivos metodológicos, para dar conta de processos e objetos que se caracterizam por serem fluidos, dinâmicos e, ainda, fugidios.
Ao compartilhar este diagnóstico, nós, um conjunto de pesquisadores de diversos países, temos iniciado há um tempo o esforço de refletir coletivamente em torno da idéia de apropriação de tecnologias, convencidos de que, na medida em que este olhar se consolide com a geração e validação de novas ferramentas teórico-metodológicas, irá se converter em um paradigma potente para explicar a complexidade da relação que os sujeitos estabelecem com os dispositivos tecnológicos.
Em primeiro lugar, concordamos em caracterizar que esse vínculo (a apropriação) expressa, de formas diferentes, um potencial de autonomia dos sujeitos em relação com as expectativas que os mercados ou governos possuem sobre ele. Isso não significa que entendamos a apropriação como diferentes “graus” que, progressivamente, se encaminham para um modelo “ideal” de apropriação ou de um “usuário modelo”. Ao contrário, as plataformas digitais constituem interfaces de interação cujas gramáticas contêm implícitos modelos de uso e de usuários/as. Deste modo, reconhecemos a necessidade de pensar a relação entre acessos, usos e apropriações articulada/tensionada com essas expectativas de uso que atuam como condicionantes das práticas sociais que incorporam tecnologias. Percebemos que, nos dias de hoje, o acesso [e uso] às TIC encontra-se fortemente induzido pelas orientações do mercado: tanto as práticas mais difundidas como os dispositivos e os aplicativos mais usados são modelados por um mercado cada vez mais concentrado. Inclusive as políticas públicas, que também condicionam os modos de aceso às TIC em diferentes países através de programas educativos do tipo “1 a 1” [um computador por aluno/a] ou outras iniciativas, relacionam-se com propostas do setor privado. Compreender esses vínculos entre mercado, políticas públicas e práticas de apropriação são aspectos que também convocam nossa atenção. É por isso que nossas abordagens são multi e interdisciplinares e se sustentam em diferentes enfoques e conceitos: teoria dos usos das tecnologias, estudos de software, economia política da comunicação, educomunicação, tecnologia educativa, tecnopolítica, geopolítica e biopolítica, análise de redes e perspectivas de gênero, dentre outras.
Com o objetivo de enfatizar nossas reflexões, viemos sistematizando intercâmbios em diversos encontros:
- 2012: Primeiro Encontro de Observatórios de Tecnologias Interativas – Universidad Nacional de General Sarmiento (UNGS)- Argentina.
- 2014: Primeiro Encontro Nacional de Equipes de Pesquisa sobre Apropriação Tecno-Mediática – Universidad Nacional de Córdoba (UNC), Argentina.
- 2015: Primeiro Encontro Latino-americano e Segundo Encontro Nacional de Pesquisadores sobre Apropriação de Meios Interativos, Universidad Nacional de Córdoba (UNC), Argentina.
- 2016: Terceiro Encontro Nacional de Pesquisadores sobre Apropriação de Tecnologias – Universidad Nacional de la Patagonia San Juan Bosco, Argentina.
No marco destes espaços de discussão obtivemos alguns consensos a respeito da forma de avançar num trabalho articulado, constituindo a Rede de Pesquisadores sobre Apropriação de Tecnologias, que se propõe os objetivos e ações relacionadas a seguir:
Objetivos
- Promover a constituição de um campo de conhecimento orientado para a análise de problemas relacionados com a apropriação de tecnologias
- Dar visibilidade às nossas reflexões e avances de investigação nesses temas, para que sejam insumos úteis para o desenho de políticas públicas para o acesso e apropriação de tecnologias.
Principais ações
- Produzir publicações conjuntas
- Realizar encontros anuais ou bianuais de pesquisadores
- Avançar na geração de conteúdos para a plataforma digital: apropiaciondetecnologias.com
- Gerar pesquisas conjuntas
Em Los Polvorines, Província de Buenos Aires, Argentina, no dia 24 de novembro de 2016, nós, os pesquisadores abaixo, nos comprometemos a somar esforços para que os objetivos e ações explicitadas sejam concretizados para, desta forma, incrementar a incidência das nossas pesquisas no campo das políticas públicas e da sociedade no seu conjunto.